terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Gato

Hoje eu vi um gato preto. Um gatinho preto. E um menino de seus oito anos querendo o gatinho. É engraçado como em certos dias aquela velha frase de Rousseau se afirma: o homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe. Você já tentou lembrar de como você pensava quando tinha oito anos de idade? Você pelo menos tentou pensar em como você pensava ano passado? É impressionante como cabeça de adolescente muda tanto. São tantas festas, tantos beijos, tantos amassos, tantos amores sem sentido, tantas bebidas diferentes pra experimentar, tantos prazeres e tantas dores novas pra se sentir. E ninguém ta isento disso, por mais que você ache que faz parte de uma parcela alternativa, você vai sim, querer experimentar coisas novas, querer se descobrir, querer ter poder, querer arriscar, querer se trair, querer cair na sacanagem, querer se entregar a um pontinha do errado, porque o errado atrai, o errado desabotoa na nossa frente e solta aquele cheiro falso de perfume barato de armarinho. E todos nós adoramos. Quem nunca adorou sair com quinze numa noite só? Que menina nunca adorou ser tratada que nem uma puta, dando vazão aos seus desejos e curiosidades mais mórbidos? Que cara como eu nunca adorou se sentir o cara mais forte do mundo depois do quinto ou sexto gole daquela cachaça barata que ele rachou com seus amigos? É tanta novidade e tanta realidade que se descobre que parece que não existe mais certo ou errado. No fundo, nesse mundo não existe mesmo. Existe o prazeroso e o que é ruim (o que faz mal não está incluído no ruim, há quem diga que ‘’bom é quando faz mal’’ mesmo...). Tantos prazeres instantâneos, tantos sentimentos fluindo, tantos orgasmos e DST’s pululando nos corpos jovens e imundos... e saber que você faz parte disso, por mais que você diga que não. Por mais que os outros achem que não, por mais que te digam que não. Por mais que você diga que não. E o pior ainda é o que faz com consciência. ‘’A ignorância é uma benção’’, da qual eu não desfruto. Por isso que me dói tantos meus erros, por isso que me dói tanto as verdades. Não sei nem porque escrevo. É por isso, que muitas vezes não fazem sentido as coisas que eu falo, o modo como eu ajo. Porque no fundo nada faz sentido. Não há convicções, não há fatos verídicos (ou os que existem não são creditados) só há prazeres e deveres e mentiras e a razão. E a falsidade e a mentira e as amizades falsas e as bucetas e a morte que pega uns nas horas erradas, nos lugares errados, num coito interrompido que tira mais um da ciranda. Ciranda essa onde todos giram com algemas nos pés, porque na verdade não existe liberdade. Antes fosse a mentira divulgada, mas não é. Olha as eleições? Porque a Marina não fala quase nada? Porque o Plínio do PSOL não aparece na TV? Vocês acham que há interesse em eleger um comunista? E o que é o comunismo? O comunismo de Stalin? A ditadura do proletariado? E onde está a política na vida de um menino de oito anos?



O gato era feio. Sim, ele era muito feio. Visto de longe tinha 50% só de cabeça, com os olhos manchados de um verde que combinava com a água suja do valão que ele beirava e que na sua beirada um menino o admirava. ‘’Ele é tão lindo mãe, deixa eu levar!!!”. Ele é tão lindo... Ele está comigo aqui agora. Esse gato feio, preto, cabeçudo, orelhudo, magro e sujo. Mas que quando eu peguei no colo me agarrou com toda força do mundo, se apoiando num cara tão fraco, tão feio, tão sujo e magro quanto ele, mas que ele acreditava que podia fazer alguma coisa por ele. E podia sim. Ele tem fome, ele tem sede, ele depende de mim. Ele precisa de alguém por perto e precisa de uma gata pra ele trepar em cima. Ele não pensa que nem eu, não precisa beber pra esquecer, não é dependente de drogas como muitos e não procura uma parceira pro resto da vida. Mas depende de mim pra ter o pouco que ele necessita.







Eu sei que parece viadagem, parece mesmo. Mas tente ver isso com a visão de um menino de oito anos. Lembra daquele teu cachorrinho pulguento que te fez chorar quando morreu??

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